Para os entusiastas do Championship Manager, Tsigalko é Maradona. Ou talvez mais. Tsigalko é lenda do futebol, avançado mortífero superior a Pelé, com dotes ofensivos que faziam corar qualquer Gerd Müller ou Ronaldo. Messi não é o novo Maradona: é o novo Tsigalko. E Tsigalko não era o novo Maradona: Maradona era o pré-Tsigalko.
Por um punhado de Euros, Maxim Tsigalko trocava os gigantes do Dinamo Minsk, da Bielorrússia, por qualquer equipa de média dimensão. Sozinho, assegurava campeonatos e até glória eterna nas competições europeias. Brilhava em qualquer frente de ataque, desde o Maia ao Manchester United. Rezam as lendas que Tsigalko era até capaz de marcar mais de 40 golos por época, sem qualquer suor ou dificuldade. Performance desumana. As bibliotecas virtuais documentam e comprovam tal talento.
E rezam as lendas que qualquer bom treinador tirava partido da sua forte capacidade de marcação individual ao guarda-redes adversário, o que representava não só a maior inovação em termos técnico-tácticos desde a marcação à zona nas bolas paradas, introduzida pela primeira vez por Jorge Jesus, no Amora, nos anos 80 (segundo o próprio), mas também um inacreditável acréscimo de golos com a assinatura do craque bielorrusso.
Não surpreende, portanto, que como qualquer jogador de topo, Tsigalko seja alvo de homenagens sentidas em vídeos do YouTube, com a habitual música de dança como som ambiente. Best Of Tsigalko, golos e mais golos... Estatísticas impressionantes daquele que prometia ser o maior craque alguma vez saído do futebol do Leste Europeu.
Os vídeos, esses, ficam-se mesmo pelos míticos comentários do CM 2001/2002, porque o rasto de golos verdadeiros marcados por Tsigalko nos vários clubes que representou na sua carreira real, esfumou-se no tempo e perdeu-se para sempre. E agora, as respostas a todas as perguntas que pairam na mente de qualquer aficionado do CM: quem era Tsigalko? Que rumo seguiu esta promessa? Porque é que ainda não assinou pelo Barcelona?
Cuidadosa investigação devolve logo o primeiro detalhe a reter: Maxim Tsigalko é, afinal, Maksim Tsyhalka. Ou Maksim Tsygalko, em russo. Ou até Максім Цыгалка.
Depois de épocas de sucesso ao serviço das equipas jovens do Dinamo Minsk, Tsyhalka foi naturalmente promovido à equipa principal do clube. Onde, curiosamente, se terá mantido até finais de 2006, juntando ao brilho dos jogos do campeonato algumas internacionalizações pela Selecção Sub-21 da Bielorrússia.
Não tardou até um colosso europeu manifestar todo o seu interesse pelo promissor ponta-de-lança. Falo-vos do Marítimo, essa pérola do Funchal que chegou a juntar Dinda e Abdel Sabry na mesma equipa, com resultados infelizmente pouco animadores. Manuel Cajuda, treinador português claramente com 20 em Avaliação da Capacidade de Jogadores, fez tudo para contar com o enorme Tsigalko/Tsyhalka no plantel que preparava para a época 2004/2005. Mas quis o destino que Maksim não abrilhantasse a Liga Portuguesa com mais de 40 golos.
Primeiro, problemas com o visto de entrada no nosso país impediram o jovem craque de se juntar ao Marítimo no Estágio de pré-época, em Melgaço. Certamente uma manobra dos responsáveis de Porto, Benfica ou Sporting, que temiam uma vitória folgada do Marítimo na Liga, graças aos 54 golos em 28 jogos de Maksim. Era claro como a água: para Cajuda, com Tsyhalka, o Marítimo podia ser Campeão Europeu em duas épocas.
Ultrapassado o problema burocrático, Tsyhalka conseguiu chegar à Madeira. No primeiro treino, dizem os mais antigos, o ambiente era de excitação. Mas, ao fim de apenas uma hora na sessão de trabalho, a vida de Tsyhalka parou.
Num lance de ataque, o craque sofreu uma grave lesão no joelho. Rotura dos ligamentos cruzados. Cajuda ficou desesperado ao saber que não poderia contar com Tsigalko até ao final da época. Como qualquer treinador de CM faria, Manel Cajuda comprou a Tsyhalka um bilhete de avião para Minsk (via Frankfurt). Só de ida. O desânimo abateu-se sobre os adeptos do Marítimo. Havia quem jurasse a pés juntos que o Marítimo perdia ali uma verdadeira mina de golos.
Dizia Ricardo Silva:
Não só no Championship Manager mas também no mundo real este jovem é um dos melhores pontas de lança da actualidade. Já tive oportunidade de ver várias exibilções dele e o Marítimo não imagina o que está a perder.
Daniel alertava:
NAO O DEIXEM SAIR! VAO SE ARREPENDER MAIS TARDE!!!
A verdade é que, ao olhar para a carreira de Tsyhalka, é pouco provável que o Marítimo se tenha arrependido. Fustigado por lesões, abandonou Minsk para se juntar ao Naftan, também da Bielorrússia. 24 jogos e apenas 3 golos depois, mudou-se para o Kaisar, do competitivo campeonato do Cazaquistão, onde marcou 7 golos. Seguiu-se o Benants Yerevan, da Arménia, onde as lesões impediram Tsyhalka de ir além dos 2 golos em 4 jogos. Em 2009, acabou a carreira no Savit Mogilev, do seu país Natal. Em jeito de balanço final, ficam para a história as duas internacionalizações (e um golo) ao serviço da Bielorrússia, e a presença no Euro2004 Sub-21.
Depois de pendurar as botas, Tsyhalka continuou a ser uma referência no país. Em 2010, numa altura em que o Marítimo se preparava para defrontar o BATE Borisov, Tsigalko foi chamado à imprensa para falar da equipa portuguesa. As 3 horas que passou nas instalações do clube foram certamente muito úteis para esta análise aprofundada:
Quando joguei no Marítimo, o clube tinha 16 brasileiros. Têm uma equipa rápida e tecnicista. A defesa tinha jogadores altos, e o ataque tinha jogadores baixos. Mas as coisas mudaram muito e não sei como estão agora.
Tsyhalka, sobre o Marítimo, 2010.
Em 2011, o site bielorrusso Goals.by fez uma grande entrevista a Tsyhalka. Entre outras coisas, ficamos a saber que o fabuloso Maxim Tsigalko é agora empresário no ramo da produção e instalação de janelas. Revela que gostava de voltar pelo menos ao futebol amador, mas não sabe se as dores no pé e na anca vão permitir concretizar esse sonho. Sublinha que gostava de ser treinador, e diz que nunca rumou a outros clubes europeus porque as partes nunca se entendiam sobre o montante da transferência.
Maxim Tsigalko, ou Maksim Tsyhalka, lenda maior de todos os Championship Managers, fez um golo com todo o esplendor, ou acabou por falhar redondamente?
Dados conhecidos
Golos na carreira: 52
Internacionalizações: 2 (e 11 Sub-21)
Ponto alto da carreira: representar o Dinamo Minsk e lesionar-se no primeiro treino do Marítimo.
Situação actual: empresário no ramo das janelas.
Infelizmente, Tsigalko falhou redondamente.
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